ELEIÇÕES E PROTESTOS NA BIELORRÚSSIA: DEMOCRACIA E DIREITOS HUMANOS EM XEQUE
TEMPO DE LEITURA: 4 MIN.
FLORIANÓPOLIS - A Bielorrússia compreende um território historicamente complexo e misto, sem uma unidade cultural e soberana até sua independência política em 1991. Até lá, fez parte da antiga União das Repúblicas Socialistas e Soviéticas (URSS) e, ao longo das últimas três décadas, manteve estreitas relações com alguns países que dividem o mesmo passado, principalmente a Rússia (PEREIRA2020). Vê-se, ainda, no Leste Europeu resquícios de uma antiga luta entre as potências e o respectivo poder de influência exercido perante países mais fracos. Desde a Rússia, que não se deixa esquecer dos poderosos momentos de URSS, até a União Europeia (UE) e sua diplomacia assertiva.
Como uma democracia muito jovem, a constituição bielorrussa foi outorgada em 1994 e, logo em 1996 Aleksandr Lukashenko foi eleito presidente através do voto popular. Cedo, as ações antidemocráticas iniciaram e perduram até hoje, caracterizando a Bielorrússia como a última ditadura da Europa (PEREIRA et al, 2020). Os opositores afirmam existir fraude eleitoral e manipulação e censura dos meios de comunicação - essas reivindicações históricas culminaram nos protestos e na atenção internacional ao país agora em 2020.
O resultado das últimas eleições, em 09 de agosto, confirmaram mais uma vitória para Lukashenko e, com isso, vieram as reivindicações pela renúncia e para que novas eleições sejam realizadas (MOLITERNO, 2020). As manifestações - que movimentam jovens, trabalhadores e militares - tornaram-se robustas e a resposta governamental também, por meio do uso de força e repressão policial. Desse modo, inúmeros países posicionaram-se favoráveis ao povo, outros ao ditador e especialistas dividem opinião sobre os possíveis rumos do país.
Apesar da proximidade bielorrussa com o presidente russo,
Vladimir Putin, o mesmo reluta em fornecer ajuda de cunho material para contenção dos protestos, pois não busca intrigas com outros fortes líderes da região (FIORILLO, 2020), ao passo que apoia a continuidade de Lukashenko no comando da nação, podendo, assim, preservar os benefícios nas estreitas relações econômicas e políticas - a Bielorrússia tem uma posição estratégica contra avanços da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e UE (MAKHOVSKY; DEVITT, 2020).
Tanto Lukashenko quanto Putin adotam uma retórica contrária à UE e suas recomendações de pacifismo e realização de novas eleições. Também, acusam os Estados Unidos da América de uma possível tentativa de derrubar o atual presidente através de um golpe (BALMFORTH, 2020), o que aparenta transportar o litígio para uma esfera ideológica e de conflito entre mundo ocidental e 'oriental'.
Outra peça fundamental para o contexto bielorrusso é a candidata de oposição Sviatlana Tsikhanouskaya, quem os manifestantes assumem como vitoriosa das eleições. Mesmo após sua fuga para a Lituânia, ela incita mais protestos e pede recontagem dos votos (MAKHOVSKY; DEVITT, 2020). Além dela, outros políticos e ativistas importantes para o contexto saem do país às pressas ou estão mantidos presos pelo governo.
A manutenção dessa estrutura estatal que, historicamente, viola os direitos humanos, está mais custosa e difícil de ser levada adiante. Com tamanha atenção internacional, as prisões forçadas e a violência exacerbada contra os próprios cidadãos devem cessar, mas percebe-se que os conflitos no país estão longe de um fim pacifico para a população ou ao líder. Consequentemente, o desfecho da situação bielorrussa pode alterar as dinâmicas de poder da região, resta saber se será favorável aos russos ou à comunidade europeia.
EDUARDA SEIDEL